Gostamos de pensar que somos donos das nossas memórias - que ninguém pode mexer com elas ou revelar os seus conteúdos ocultos. Investigação emergente sugere, no entanto, que, sob certas circunstâncias, podemos implantar memórias falsas, diminuir a intensidade das emoções associadas com memórias, e até mesmo revelar o conteúdo das memórias que as pessoas preferem manter em segredo. À medida que desenvolvem formas mais eficazes para ter acesso e alterar as memórias dos outros, as nossas memórias começam a parecer cada vez menos nossas.
Num recente TEDTalk, Elizabeth Loftus descreve décadas de pesquisas mostrando que podemos alterar memórias existentes e até mesmo implantar falsas memórias de eventos que nunca ocorreram. Sujeitos a quem foi dada informação enganosa revelando que ficaram doentes por comer gelado de morango na infância tinham mais probabilidade, em média, de acreditar que eles realmente ficaram doentes por isso comparativamente aos indivíduos do grupo de controlo a quem não é dada a informação. O poder da sugestão para alterar memórias levou muitos departamentos de polícia a mudar os seus procedimentos de interrogatório para evitar inadvertidamente influenciar as testemunhas.
(...)Então, o que esses estudos têm mostrado é que, quando fornecemos às pessoas informação incorrecta sobre alguma experiência pela qual tenham passado, podemos distorcer, ou contaminar, ou modificar sua memória.
Bem, lá fora, no mundo real, há informações erradas em toda parte. Recebemos informações erradas não apenas se formos questionados de forma manipuladora, mas se conversarmos com outras testemunhas que talvez conscientemente ou inadvertidamente nos forneçam alguma informação falsa, ou se virmos reportagens sobre algum evento pelo qual tenhamos passado, tudo isso gera uma oportunidade para esse tipo de contaminação de nossa memória.
Na década de 90, começamos a ver um tipo de problema de memória ainda mais extremo. Alguns pacientes faziam terapia por conta de um problema -- talvez por depressão, ou um transtorno alimentar -- e saíam da terapia com um problema diferente. Memórias extremas de brutalidades horríveis, às vezes em rituais satânicos, às vezes envolvendo elementos muito bizarros e incomuns. Uma mulher saiu da psicoterapia crendo ter suportado anos de abusos ritualísticos, em que tinha sido forçada a engravidar e em que o bebê tinha sido arrancado de sua barriga. Mas não havia cicatrizes visíveis ou qualquer tipo de evidência física que comprovassem sua história. E quando comecei a analisar esses casos, eu ficava me perguntando: "De onde vêm essas memórias bizarras?" E descobri que a maior parte dessas situações envolvia algum tipo específico de psicoterapia. Então, perguntei: "Será que algumas das coisas que aconteciam nessa psicoterapia -- como os exercícios de imaginação, ou de interpretação de sonhos, ou, em alguns casos, de hipnose, ou, em alguns casos, de exposição a informação falsa -- será que levavam esses pacientes a desenvolverem essas memórias totalmente bizarras e improváveis?" E criei alguns testes para tentar estudar os processos que eram usados nessa psicoterapia, permitindo-me estudar o desenvolvimento dessas riquíssimas falsas memórias.
(...) Se houve algo aprendi nessas décadas de trabalho com esses problemas, foi isto: só porque alguém diz algo a você e o dizem com confiança, só porque o dizem com riqueza de detalhes, só porque expressam emoção quando o dizem, isso não significa que o que dizem de fato aconteceu. Não podemos distinguir com certeza as memórias reais das falsas memórias. Precisamos de confirmação imparcial. Tal descoberta me tornou mais tolerante com os erros comuns de memória que meus amigos e familiares cometem.
Mas, contudo, devemos todos ter em mente, seria bom que fizéssemos isso, que a memória, como a liberdade, é algo frágil.
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