O sistema nervoso autónomo
Sistema nervoso autónomo (também chamado sistema neurovegetativo ou sistema nervoso visceral) é a parte do sistema nervoso que controla a vida vegetativa, ou seja, controla funções como a respiração, circulação do sangue, batimento cardíaco, temperatura corporal e digestão, entre muitas outras funções.
O desequilíbrio crónico do sistema nervoso autónomo sob a forma do aumento do tónus simpático e/ou da diminuição do tónus parassimpático é um poderoso factor de risco para a morbilidade e mortalidade cardiovascular [2] e [3]. A activação simpática cardiovascular aumenta a carga de trabalho e contribuem para a disfunção endotelial, espasmo coronário, hipertrofia ventricular esquerda, enfarte do miocárdio, arritmias e a morte súbita [3] . Diversos factores afectam negativamente o equilíbrio do sistema nervoso autónomo, incluindo resistência à insulina e síndrome metabólica, medicamentos simpaticomiméticos ou certas drogas e agentes psicossociais geradores de stresse agudo e crónico estão associadas ao aumento do risco de eventos cardiovasculares. Por outro lado, as terapias que oferecem um equilíbrio autónomo mais favorável, como o exercício físico, beta-bloqueadores e inibidores da enzima conversora da angiotensina podem reduzir a morbidade e mortalidade cardiovascular [3]. Descrito como um estado de hipometabolismo vigilante [4], as práticas de meditação podem agudamente exercer influência positiva e significativa sobre o tónus autónomo com activação parassimpática [5]. A prática regular da meditação pode influenciar favoravelmente o equilíbrio autónomo [6].
Variabilidade da frequência cardíaca e reflexos autónomos
A variabilidade da frequência cardíaca, uma medida da variação da frequência cardíaca instantânea ao longo do tempo, pode fornecer uma janela para o estudo do funcionamento do sistema nervoso autónomo e equilíbrio autónomo. Uma baixa variabilidade da frequência cardíaca tem sido associada com o aumento do risco de eventos cardiovasculares e mortalidade, e também tem sido associado a um mau prognóstico na insuficiência cardíaca e pós infarte do miocárdio [7], [8], [9], [10] e [11]. O aumento da variabilidade da frequência cardíaca aparece como cardioprotector na maioria, mas não em todos os grupos (por exemplo, aqueles com disfunção do nó sinusal), como demonstrado no estudo Rotterdam [12].
Três sub-bandas de variabilidade cardíaca de interesse particular incluem: oscilações de alta frequência (0,15-0,4 Hz), oscilações de baixa frequência (0,04-0,15 Hz) e oscilações de baixa frequência (0,3-0,04 Hz) [13]. Outra variável a ter em consideração é a arritmia sinusal respiratória (RSA). A RSA é um fenómeno fisiológico normal, durante o qual a frequência cardíaca aumenta com a inspiração e diminui com a expiração.
A respiração lenta, na freqüência de 0.1 Hz (seis ciclos respiratórios por minuto, um ciclo a cada 10 segundos), mostrou-se efectiva para aumentar a oxigenação sanguínea, a tolerância ao exercício e a sensibilidade do barorreflexo [14] [15] , [16], [17], [18] e [19]. Esta é a mesma fisiologia que ocorre durante o treino de biofeedback para aumentar a variabilidade da frequência cardíaca [20].
Foi demonstrado que durante a recitação da Avé Maria em Latim e durante a recitação de um mantra de Yoga os praticantes diminuem espontaneamente sua taxa respiratória para 6 respirações por minuto, o que aumenta a variabilidade da frequência cardíaca e a amplitude das ondas de Mayer e até mesmo obteve-se variações rítmicas no fluxo sanguíneo cerebral.
Um dos benefícios da meditação é a redução da activação do sistema nervoso simpático e o aumento da actividade do sistema nervoso parassimpático. A meditação pode ajudar a prevenir e a tratar muitos sintomas negativos, desligando a resposta automática ao stresse.
Referências
[1] K. Rubia. The neurobiology of meditation and its clinical effectiveness in psychiatric disorders
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[2] S. Emani, P.F. Binkley. Mind–body medicine in chronic heart failure: a translational science challenge
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[3] B.M. Curtis, J.H. O'Keefe Jr. Autonomic tone as a cardiovascular risk factor: the dangers of chronic fight or flight Mayo Clin Proc, 77 (1) (Jan. 2002), pp. 45–54.
[4] R. Jevning, R.K. Wallace, M. Beidebach. The physiology of meditation: a review. A wakeful hypometabolic integrated response Neurosci Biobehav Rev, 16 (3) (Fall 1992), pp. 415–424.
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[6] R. Sudsuang, V. Chentanez, K. Veluvan. Effect of Buddhist meditation on serum cortisol and total protein levels, blood pressure, pulse rate, lung volume and reaction time Physiol Behav, 50 (3) (Sep. 1991), pp. 543–548.
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[20] P.M. Lehrer, E. Vaschillo, B. Vaschillo. Resonant frequency biofeedback training to increase cardiac variability: rationale and manual for training. Appl Psychophysiol Biofeedback, 25 (3) (Sep. 2000), pp. 177–191.
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