E se juntássemos a ciência subjacente a como os nossos cérebros aprendem melhor pudéssemos despertar o nosso interesse natural para nos treinarmos a prestar atenção? Ainda tenho a sua atenção?
Há mais de 100 anos atrás, Edward Thorndyke descreveu um processo neuronal agora conhecido como aprendizagem baseada na recompensa. Muitos de nós aprendemos na escola através do reforço positivo e negativo. Nada novo. Então, porque deveria preocupar-se? Acontece que as suas raízes são muito mais profundas do que isso. Na verdade, este processo pode ser rastreado até à literatura psicológica budista que é a base para a atual "revolução mindfulness", veiculada pelos media.
Pode estar a pensar, sim, eu tentei meditar, e não funcionou, ou que era muito difícil. Para ser honesto, quando eu participei no meu primeiro retiro de meditação encontrei exatamente a mesma coisa. Tinha-me licenciado recentemente em Princeton e estava bem na faculdade de medicina. Sabia como concentrar-me e fazer as 'coisas'. No entanto, apenas um ou dois dias antes do retiro de silêncio de uma semana, dei por mim a chorar incontrolavelmente no ombro do organizador do retiro, porque eu realmente não o poderia realizar. No conseguia estar concentrado por mais do que alguns minutos seguidos.
Dez anos mais tarde, quando estava a estudar a ciência por trás de mindfulness, deparei-me com os escritos psicológicos antigos que me mostraram que estava a fazê-lo de forma errada, e, ironicamente, como o nosso processo natural de aprendizagem baseado na recompensa poderia ser aproveitado para aprender a prestar atenção de uma maneira que não nos deixa drenado e derrotado dentro de 10 minutos. [1]
Aqui está como funciona.
Há duas formas de prestarmos atenção:
1. forçar a concentração;
2. ficarmos interessados.
A primeira forma foi o que eu fiz quando estava a começar a aprender mindfulness. A instrução era para colocar a atenção na respiração, e quando a minha mente vagueava, trazê-la de volta. Parecia simples, mas a minha mente não estava definitivamente interessada. Foi a coisa mais aborrecida do mundo. Então, apenas resistia e forçava, porque isso é tudo o que conhecia. O que, naturalmente, me deixou exausto e frustrado dentro de um par de minutos. Claramente, não é uma boa solução.
E a segunda opção? A de estar interessado? Quão difícil é isso? Se se lembrar da primeira frase deste post pode ver por si mesmo como estamos naturalmente envolvidos, sem esforço, quando estamos interessados em algo. Aqui está um exemplo: quando começar a ler um bom livro, o que acontece? Presta atenção. Se for realmente bom, vai encontrar-se completamente envolvido, lendo-o até perder a noção do tempo. Pode estar tão absorvido que pode lê-lo nos transportes públicos, imperturbável pelo ruído ou comoção em torno de si. Tenho certeza que já viu isso acontecer muitas vezes. Todos nós temos essa capacidade.
Aqui é onde a aprendizagem baseada na recompensa entra.
Existem três componentes básicos:
1. 'Gatilho' ou Fator Despoletador;
2. Comportamento e;
3. Recompensa.
Do ponto de vista evolutivo, isto representa como nós sobrevivemos ao longo do tempo. Vemos uma fruta ou uma baga que parecem saborosos, levamos à boca, e se for comestível, somos recompensados (ou seja, o gosto é bom). Aprendemos a comer mais do mesmo. Se trincarmos e é amargo, a tentação será cuspir imediatamente. Esta recompensa negativa ensina-nos a não comer estes frutos. E para cimentar essas memórias nas nossas mentes, cada vez que aprendemos algo, os nossos cérebros libertam um pouco de dopamina num caminho de recompensa neuronal (o mesmo neurotransmissor que é afetado por medicamentos como Ritalina, usado na Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção, bem como outros estimulantes, como a cocaína). Pense nisto como um pouco de cola que solidifica a associação entre a baga e "sim, esta é comestível" ou "não comer isso novamente". Este sistema ainda nos ajuda a lembrar onde as bagas estão para que possamos voltar para apanhar mais.
Onde entra a curiosidade?
Quando algo desencadeia a nossa curiosidade naturalmente ficamos interessados e também nos traz uma sensação de bem-estar. Assim, a atenção curiosa tem uma recompensa natural. Compare isso com a obrigatoriedade em concentrar-se em algo. Assim, se conseguir praticar tocando na sua capacidade natural de prestar atenção de uma forma curiosa, pode dar um bom uso à sua aprendizagem baseada na recompensa. Isto é o que a prática de mindfulness é: largar as nossas noções preconcebidas ou juízos de como algo "sempre" é, e estar curioso sobre o que realmente está acontecer agora.
Do ponto de vista mecanicista, o que resta para ser descoberto é a distinção entre as vias de recompensa baseados na dopamina e aquelas que envolvem mindfulness. Experimentalmente estas são bastante distintas. Há uma qualidade agitada na experiência que vem associada com a dopamina. Vejo isso nos meus pacientes viciados em cocaína ou outros estimulantes. Com curiosidade não há esta agitação ansiosa, não precisamos de saltar páginas de um livro apenas porque não podemos esperar para ver como a história termina. É um estado aberto, descontraído, mas alegre. Não corremos para chegar seja onde for. (ver vídeo no TEDx). [2-6]
Na verdade, quando temos participantes nas nossas investigações, recorrendo a scanners cerebrais e estão apenas curiosos, um dos centros de "Mim" do cérebro (córtex cingulado posterior) 'fica muito tranquilo' (ver figura). De salientar que esta via não parece envolver caminhos da dopamina tradicionais.
Legenda da figura: Exemplos de atividade cerebral no córtex cingulado posterior em a) um praticante iniciante que foi instruído a prestar atenção à respiração, b) um praticante experiente, que foi orientado a prestar atenção à respiração, e c) um praticante experiente, que foi instruído a prestar atenção à respiração e, em particular, a qualquer sentimento relacionado com interesse, admiração e alegria. Adaptado de Brewer Davis e Goldstein de 2012..
Do ponto de vista clínico, embora os resultados sejam preliminares, o treino da mente parece ser útil até mesmo para as pessoas com PHDA (para uma sinopse, ver este post do New York Times por Daniel Goleman). [7-9] O próximo passo será descobrir como isso acontece no cérebro.
Mas, entretanto, simplesmente ser capaz de diferenciar entre emoção e curiosidade pode ser realmente útil. Excitação está dependente das circunstâncias externas (ou seja, precisamos estar, por exemplo, numa montanha russa), vem e vai em rajadas curtas, e deixa-nos inquietos, a querer mais. A curiosidade é uma capacidade natural, inerente que se constrói sobre si mesma e encerra uma gratificação natural.
Assim, da próxima vez que estiver em situações onde procura concentrar-se em terminar esse projeto 'traquinas', ou mesmo quando se esforça para manter o foco numa história que um(a) amigo(a) está a contar-lhe, veja se pode entrar nos seus próprios processos de aprendizagem naturais à base da recompensa: note o 'gatilho', fique curioso (comportamento), e recompense-se (note a alegria da curiosidade, etc.).
Como Dorothy Parker escreveu: A cura para o tédio é a curiosidade. Não há cura para a curiosidade.
Referências:
1. Brewer, J.A., J.H. Davis, and J. Goldstein, Why Is It So Hard to Pay Attention, or Is It? Mindfulness, the Factors of Awakening and Reward-Based Learning. Mindfulness, 2013. 4(1): p. 75-80.
2. Brewer, J.A. and K.A. Garrison, The posterior cingulate cortex as a plausible mechanistic target of meditation: findings from neuroimaging. Annals of the New York Academy of Sciences, 2014. 1307(1): p. 19-27.
3. Brewer, J.A., K.A. Garrison, and S. Whitfield-Gabrieli, What about the "Self" is Processed in the Posterior Cingulate Cortex? Frontiers in Human Neuroscience, 2013. 7.
4. Brewer, J.A., et al., Meditation experience is associated with differences in default mode network activity and connectivity. Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America, 2011. 108(50): p. 20254-9.
5. Garrison, K., et al., Effortless awareness: using real time neurofeedback to investigate correlates of posterior cingulate cortex activity in meditatorsí self-report. Frontiers in Human Neuroscience, 2013. 7.
6. Garrison, K.A., et al., Real-time fMRI links subjective experience with brain activity during focused attention. Neuroimage, 2013. 81C: p. 110-118.
7. Zylowska, L., et al., Mindfulness meditation training in adults and adolescents with ADHD: a feasibility study. J Atten Disord, 2008. 11(6): p. 737-46.
8. van der Oord, S., S. Bögels, and D. Peijnenburg, The Effectiveness of Mindfulness Training for Children with ADHD and Mindful Parenting for their Parents. Journal of Child and Family Studies, 2012. 21(1): p. 139-147.
9. van de Weijer-Bergsma, E., et al., The Effectiveness of Mindfulness Training on Behavioral Problems and Attentional Functioning in Adolescents with ADHD. Journal of Child and Family Studies, 2012. 21(5): p. 775-787.
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http://www.huffingtonpost.com/dr-judson-brewer/mindfulness-practice_b_5495328.html
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