A meditação não é fácil. Leva tempo e é preciso energia. Além disso, também é preciso coragem, determinação e disciplina. Ela exige uma série de qualidades pessoais que que normalmente consideramos desagradáveis e que gostaríamos de evitar, sempre que possível.
Certamente é muito mais fácil apenas sentar e assistir televisão. Então, porquê se preocupar? Porquê desperdiçar todo esse tempo e energia quando podia estar a divertir-se? Porquê? Simples. Porque é humano. Só pelo simples facto de que é humano é herdeiro de uma inerente insatisfação com a vida, que simplesmente não desaparece. Pode conscientemente suprimi-la por um tempo; pode distrair-se por horas a fio, mas volta sempre, e geralmente quando menos espera.
O que fazer com a sua mente?
Há uma diferença entre estar consciente de um pensamento e pensar um pensamento. Essa diferença é muito subtil. É principalmente uma questão de sentimento ou de textura.
Se prestar atenção plena a um pensamento ele simplesmente será sentido como leve em textura; existe uma sensação de distância entre o pensamento e a consciência que o vê.
Ele surge levemente como uma bolha e dissolve-se, sem necessariamente dar origem ao próximo pensamento nessa cadeia. O pensamento consciente “normal” é muito mais pesado na sua textura. É pesado, imponente e compulsivo. Arrasta-nos e toma o controlo da consciência. Pela sua natureza intrínseca é obsessivo e conduz directamente para o próximo pensamento na cadeia, com aparentemente nenhuma diferença entre eles.
O pensamento consciente configura uma tensão correspondente no corpo, como a contracção muscular ou uma aceleração dos batimentos cardíacos. Mas não irá sentir muita tensão até que cresça para dor real, porque o pensamento consciente normal, também é ganancioso. Ele agarra toda a sua atenção e não permite notar o seu próprio efeito.
A diferença entre estar consciente do pensamento e ter o pensamento é muito real. Mas é extremamente subtil e difícil de ver. A concentração é uma das ferramentas necessárias para ser capaz de ver a diferença. A concentração profunda tem o efeito de retardar o processo de pensamento e acelerar a consciência que o vê. O resultado é o reforço da capacidade de examinar o processo de pensamento. A concentração é o nosso microscópio para visualização de estados internos subtis. Nós usamos o foco da atenção para conseguir a plena concentração de espírito, com calma e atenção constantemente aplicada. Sem um ponto de referência fixo irá se perder, vencido pelas ondas incessantes de mudança fluindo na mente.
Usamos a respiração como o nosso foco. Ela serve como o ponto de referência fundamental a partir do qual a mente divaga e é atraída de volta. A distracção não pode ser vista como distracção a menos que haja alguma referência. Esse é o quadro de referência contra a qual podemos ver as mudanças incessantes e as interrupções que acontecem constantemente, como parte do pensamento normal.
continua:
A IMPORTÂNCIA DO FOCO NA RESPIRAÇÃO
Bhante Henepola Gunaratana - Beyond Mindfulness in Plain English: An Introductory guide to Deeper States of Meditation
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