"Por vezes, quando nos fixamos em algo, as nossas mentes parecem tornar-se muito pequenas. Questões triviais surgem na nossa consciência como se fossem muito grandes e importantes. Na verdade, elas não se tornaram grandes. As nossas mentes tornaram-se pequenas. A experiência da grandeza dos conteúdos da mente é relativa à amplitude da mente. Assim, para manter as actividades mentais em perspectiva, deixemos o espaço da consciência permanecer tão vasto quanto possível. Entretanto, quanto menos nos apegarmos aos eventos mentais, menos o espaço mental se contrai à sua volta e é distorcido por eles"
- Alan Wallace, The Attention Revolution.
"Esta manhã, aconteceu olhar para a folha de uma árvore.
Nessa folha descobri a realidade detalhada da nossa existência.
Eu nunca tinha visto verdadeiramente a natureza milagrosa da nossa vida.
Eu olhei para a folha em profundo silêncio, com os olhos cheios de lágrimas.
Deste modo sentei-me nas profundezas de uma serenidade e paz especiais"
Mestre Zen Hogen Yamahata
A grande revolução do século XXI é a descoberta de como a meditação altera a estrutura e função do cérebro e de como o treino da focalização da atenção, bem como do amor e da compaixão pelos outros seres, activa áreas cerebrais que habitualmente estão pouco operativas, aumentando os níveis de cognição, de bem-estar e felicidade. A meditação está a entrar gradualmente nas empresas, escolas, prisões e hospitais e falta trazê-la para o domínio da intervenção sócio-política. Precisamos de um activismo fundado no discernimento, na paz e na calma e não na raiva e no ressentimento. Este é o caminho do futuro já presente, o da intervenção a partir de uma espiritualidade e ética laica, equidistante de todas as religiões e aberta a todos, crentes ou descrentes.
Paulo Borges
"Todos nós somos potenciais activistas. Podemos mostrar ao mundo que uma vida boa pode ser vivida sem subjugação, exploração ou dominação dos outros, ou dos recursos naturais. Podemos demonstrar que uma vida simples, saudável e equitativa pode ser alegre e boa. Podemos mostrar que a felicidade não flui dos bens materiais ou do valor que possuímos nas nossas contas bancárias, pelo contrário, a felicidade brota da nossa qualidade de vida e do tipo de relação que temos com as nossas famílias, comunidades e com o mundo. Nós não temos que esperar por um messias. A verdadeira liderança não vai sair do parlamento ou o palácio presidencial (...) O verdadeiro activismo é agir com integridade e sem medo. O activismo é um chamamento interior. É uma viagem. A jornada de transformação
da subjugação em libertação, da falsidade em verdade, do controle em participação e da ganância em gratidão"
Satish Kumar, Small World Big Ideas
“Tudo está em nós se não tivermos medo de olhar (…) A prática da compaixão, do amor, da coragem, da paciência e da esperança, traz como recompensa uma consciência incessantemente mais aprofundada da ajuda que chega quando procuramos em nós mesmos a força e a inspiração. Quando um ser humano encontra o mais elevado espaço de calma e de paz de que é capaz, as influências celestes derramam-se nele, renovam-no e utilizam-no na salvação da humanidade”
Elisabeth Kübler-Ross
Não há vida nem morte, nem luz nem treva, nem mal, nem bem, mas qualquer cousa que vive e morre, que é luminosa e escura, bôa e má, não por índole própria, mas devido a circunstancias imprevistas, num dado logar e num dado instante. Essa qualquer cousa escapa-se à nossa apreensão e compreensão; talvez seja um quasi nada, na melhor hipotese para os que aspiram a uma existencia substancial, que sente, pensa e quer, - a uma entidade moral, um eu senhor do seu valor, uma especie de prosapia personificada falsamente, um conde apenas titulo, a governar o auto do seu corpo, ao longo da Via Dolorosa, sob o clarão dos relampagos, ou submerso nas trevas, isto é, com os faroes acesos ou apagados”
- Teixeira de Pascoaes, Santo Agostinho, Porto, Livraria Civilização, 1945, pp.177-178
“É a Hora!”, escreveu Fernando Pessoa no final da “Mensagem”. É a Hora de deitar por terra todos os muros de Berlim, exteriores e interiores. É a Hora de deitar por terra tudo o que separa: o interior e o exterior, o hemisfério esquerdo e o hemisfério direito do cérebro, a razão e a sensibilidade, a intuição e a lógica, a mente e o corpo, a mulher e o homem, o masculino e o feminino, o céu e a terra, o tempo e a eternidade, o humano e o animal, as causas humana, animal e ambiental, a direita e a esquerda, o sagrado e o profano, o grande e o pequeno, o todo e a parte, os crentes e os descrentes, a transcendência e a imanência, a espiritualidade e a política, a natureza e a cultura, o Norte e o Sul, o Oriente e o Ocidente. E tudo o mais que a ficção do pensamento e da linguagem divide para definir.
Na verdade nada disto alguma vez existiu separado, a não ser nas mentes que constroem muros por não reconhecerem pontes. Deixa ruir o muro de Berlim em ti e renascerás aquele por quem o mundo espera. Que o muro de Berlim em todos caia e nada será igual à face da terra. A Hora é Agora.
Não procures o sofrimento, mas também não o rejeites. Quando aparecer, regozija-te por surgir em ti e não em outrem. Abraça-o, não lutes contra ele nem o deixes fora de ti. Faz o mesmo com todo o sofrimento que vires nos outros: inspira acolhendo-o no mais fundo de ti mesmo, converte-o na luz que és e expira oferecendo-a a todos. Deixarás então de sofrer com o sofrimento, que se revelará o início da mais imprevista, pura e transbordante alegria.
Paulo Borges
“A Terceira Porta para a Libertação é ausência de objectivos, apranihita. Não há nada a fazer, nada a realizar, não há programa, não há agenda. Este é o ensinamento budista sobre a escatologia. Tem a rosa de fazer algo? Não, o propósito de uma rosa é ser uma rosa. O teu propósito é seres tu mesmo. Não tens de correr para lado algum para seres alguém diferente. És maravilhoso tal como és. Este ensinamento do Buda permite-nos desfrutar de nós mesmos, do céu azul e de tudo o que é refrescante e curativo no momento presente.
Não há necessidade de colocar algo à nossa frente e correr atrás disso. Já temos tudo o que procuramos, tudo o que queremos ser. Já somos um Buda, então porque não pegar apenas na mão de outro Buda e praticar meditação em andamento? Este é o ensinamento do Avatamsaka Sutra. Sê tu mesmo. A vida é preciosa tal como é. Todos os elementos para a tua felicidade já estão aqui. Não há necessidade de correr, esforçar-se, procurar ou combater. Sê apenas. Estar apenas no momento neste lugar é a mais profunda prática de meditação. A maioria das pessoas não consegue crer que basta apenas caminhar como se não tivéssemos lugar algum para ir. Pensam que esforçar-se e competir é normal e necessário. Tenta praticar a ausência de objectivos durante apenas cinco minutos e verás quão feliz estás durante esses cinco minutos.
O Sutra do Coração diz que “não há nada a atingir”. Não meditamos para atingir a iluminação, porque a iluminação já está em nós. Não temos de procurar em lugar algum. Não necessitamos de um propósito ou um fim. Não praticamos para obter alguma posição elevada. Na ausência de objectivos, vemos que nada nos falta, que já somos aquilo em que nos queremos tornar e o nosso esforço simplesmente pára. Estamos em paz no momento presente, vendo apenas a luz do sol fluindo através da nossa janela ou ouvindo o som da chuva. Não temos de correr atrás de nada. Podemos fruir cada momento. As pessoas falam de entrar em nirvana, mas já estamos lá. Ausência de objectivos e nirvana são um.
Despertando esta manhã, sorrio.
Vinte e quatro horas novinhas em folha estão diante de mim.
Faço votos de viver plenamente em cada momento
e de olhar para todos os seres com os olhos do amor”
- Thich Nhat Hanh, The Heart of the Buddhas’s Teaching, Londres, Ryder, 1999, pp.152-153.
Que o amor aos humanos se estenda aos animais e à natureza. Que o amor aos animais se estenda aos humanos e à natureza. Que o amor à natureza se estenda aos humanos e aos animais. Que quem ama, quem é amado e amar se dissolvam em Amor. Esse Amor será então a-mors, não-morte.
“As nossas crianças aprendem na escola a ler, escrever, matemática, ciência e outras matérias que as podem ajudar a ganhar a vida. Mas muito poucos programas escolares ensinam os jovens como viver – como lidar com a cólera, como reconciliar conflitos, como respirar, sorrir e transformar as formações internas [pensamentos e emoções]. Devemos encorajar as escolas a exercitar os nossos alunos na arte de viver em paz e harmonia”
- Thich Nhat Hanh, The Heart of the Buddhas’s Teaching, Londres, Ryder, 1999, p.150.
Uma das bases mais evidentes da falência do actual sistema é a educação. As famílias, ou seja, nós todos, pouco mais fazemos em geral do que orientar as crianças e jovens para se tornarem iguais aos adultos que somos, supostamente mais experientes e conhecedores, mas que na verdade quase só sabemos como competir e trabalhar para sobreviver e consumir, distrairmo-nos de vez em quando para voltar à rotina de sempre e ser infelizes a vida toda. E depois esperamos que a escola continue o mesmo processo. O resultado é, mais do que o insucesso escolar, o insucesso da escola para cumprir uma verdadeira função educativa e o crescente mal-estar nesta civilização, onde as potencialidades mais profundas do ser humano, como a expansão da consciência, a criatividade, a amizade e o amor desinteressados, a generosidade e a partilha, a empatia com a natureza e todas as formas de vida, são recalcados pela pressão familiar, escolar, social e profissional, dando lugar a seres divididos, em luta contra o melhor de si mesmos e por isso em constante conflito com os outros, que morrem com remorsos de não haver vivido plenamente. Necessitamos urgentemente de outras escolas e de outra escola, mas isso não vai acontecer, globalmente, enquanto a sociedade estiver dominada pela economia de mercado e pela ganância capitalista, da qual somos todos cúmplices e responsáveis. Não basta lutar por mudanças sectoriais sem pôr em causa a estrutura fundamental do sistema.Paulo Borges
"A verdade da vida não é uma meta a alcançar num determinado momento no futuro; é a realidade do passo dado neste preciso instante. Pensar na realidade como uma linha recta, uma progressão linear do princípio ao fim, de causa a efeito, da ideia à realização, é um erro. A realidade é um círculo infinito e cada ponto da sua circunferência é ao mesmo tempo o centro, o ponto de partida e o ponto de chegada"
Mestre Zen Hogen Yamahata
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