Um novo modelo computacional de como o cérebro faz escolhas altruístas é capaz de prever quando uma pessoa vai agir generosamente num cenário que envolve a perda de dinheiro. A investigação, liderada pelos cientistas do California Institute of Technology, apareceu no dia 15 de julho na revista Neuron. Este estudo também ajuda a explicar que ser generoso, às vezes, parece tão difícil.
A razão pela qual as pessoas agem de forma altruísta é controversa entre os académicos. Alguns argumentam que as pessoas são naturalmente egoístas e que a única maneira de substituir as nossas tendências gananciosas é exercitar o autocontrolo. Outros têm uma perspetiva mais positiva, acreditando que os seres humanos consideram naturalmente a generosidade gratificante e que só agem de modo egoísta quando fazem uma pausa para pensar sobre isso. O "modelo Caltech" sugere que "no meio é que está a virtude"; tanto a generosidade, como o egoísmo podem surgir de forma rápida e sem esforço. Mas isso depende da pessoa e do contexto.
"Adotámos um modelo de escolha muito simples, que tem sido desenvolvido para prever as decisões perceptivas - como se um ponto está a mover-se para a esquerda ou para a direita - sendo adaptado para entender a generosidade", diz a principal autora Cendri Hutcherson, que fez esta investigação inserida num pós-doutoramento do California Institute of Technology e agora dirige a Decision Neuroscience Lab na Universidade de Toronto.
Com este modelo simples somos capazes de explicar uma enorme variedade de padrões anteriormente confusos sobre como as pessoas fazem escolhas altruístas.
"Descobrimos que o que importa não é se a pessoa pode exercer autocontrolo, mas simplesmente quão fortemente cada um de nós considera as necessidades dos outros em relação às suas próprias", afirma a autora.
Se considerar mais as necessidades da outra pessoa ser generoso é fácil. Se considerar mais as suas necessidades a generosidade requer um grande esforço.
Hutcherson também considera que este modelo lança luz sobre os debates relativos a se o simples ato de nos comportarmos com generosidade é gratificante. "Os investigadores têm observado que se uma pessoa agir com generosidade, então é possível observar uma maior atividade em áreas do cérebro que representam um valor de recompensa, e por isso concluíram que a generosidade é um ato intrinsecamente gratificante - mas, na verdade, o nosso modelo sugere que se pode obter essa mesa atividade cerebral apenas através da forma como essas regiões constroem uma decisão ", diz ela. "Iríamos ver mais ativação em áreas relacionadas com a recompensa simplesmente porque a decisão é complexa e por isso requer mais processamento cerebral."
O modelo é baseado em imagens do cérebro de 51 homens à medida que eles tomaram decisões numa versão modificada do "jogo do ditador". Para jogar este jogo, cada participante foi emparelhado com um estranho que ele nunca conheceu, sendo questionado se estaria disposto a sacrificar quantidades diferentes de dinheiro de modo a que o estranho pudesse obter um pagamento significativamente maior (por exemplo, o próprio perdem €25 e que a outra pessoa recebe um extra de €100). O dinheiro era real e cada participante teve que fazer um total de 180 decisões.
Os scans ao cérebro sugerem que diferentes áreas cerebrais representam os interesses próprios e de terceiros. Valores auto-orientados correlacionaram-se com a atividade no ventral estriado, uma área associada com o processamento baseado na recompensa. Valores orientados para os outros correlacionaram-se com a ativação da junção temporo-parietal, que tem sido implicada na empatia. Hutcherson acredita que esta é uma evidência de que as pessoas são mais propensas a doar recursos se elas já tiverem em mente em como a sua doação vai beneficiar alguém.
Talvez sem surpresa a maioria das pessoas tende a ser gananciosa, mas o modelo também explica outro enigma: às vezes até mesmo os participantes mais egoístas tomam decisões generosas. Os investigadores vêem essas escolhas não como evidência de auto-controlo, como se pensava anteriormente, mas simplesmente como erros, um momento em que o benefício para o Self foi acidentalmente subvalorizado. Estes erros sugerem que a pressão do tempo poderia ser uma forma de levar as pessoas a se desviarem dos seus comportamentos normais de dar, mas isso, provavelmente, não será uma estratégia de sucesso de longo prazo para captação de recursos.
"Os nossos resultados indicam que as pessoas são mais felizes quando a generosidade por engano/erro não acontece," afirma Hutcherson. "Mas se pudermos aumentar o foco das pessoas nos pensamentos e nas experiências dos outros podemos diminuir os erros e aumentar as doações de caridade, tornando o altruísmo muito mais fácil."
Cendri A. Hutcherson, Benjamin Bushong, Antonio Rangel. A Neurocomputational Model of Altruistic Choice and Its Implications. Neuron, 2015; 87 (2): 451 DOI: 10.1016/j.neuron.2015.06.031
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