Workshop - Respirar a Vida
A respiração flui em função de uma necessidade fisiológica básica: as nossas células e tecidos precisam de oxigénio. No processo respiratório, o oxigénio é transportado até às células através do sangue arterial, desde o coração e os pulmões, enquanto que o dióxido de carbono é devolvido ao coração e aos pulmões via sangue venoso.
A ciência moderna reconhece as mesmas fases da respiração salientadas pela ciência da antiga Índia: inalação, exalação e cessação da respiração, denominada apneia (que ocorre naturalmente entre cada inspiração e expiração). Existem dois tipos básicos de respiração que envolvem formas diferentes de mover os pulmões: torácica e abdominal (ou diafragmática). Na respiração torácica, a caixa torácica expande-se com a inalação e fecha-se com a exalação. Na respiração abdominal, o ventre expande-se com a inalação e contrai-se com a exalação. Nenhum destes dois tipos de respiração será a forma correcta de respirar, já que são importantes em diferentes circunstâncias e podem ser combinadas para criar variações que são a base de muitas actividades, movimentos ou intenções energéticas.
A respiração ocorre naturalmente, involuntariamente e inconscientemente. Esta “respiração natural” varia consideravelmente e depende das condições físicas, emocionais, mentais e espirituais da pessoa. É seriamente comprometida com a depressão, ansiedade, músculos respiratórios fracos, letargia ou excesso de energia. Nestas condições a respiração é, geralmente, superficial, pouco eficiente e suporta-se em músculos respiratórios secundários.
A saúde é uma integração dos aspectos físicos, emocionais e espirituais do bem-estar. O ar que respiramos, também conhecido como prana é a essência da vida, e desempenha um papel vital na manutenção da saúde. Prana é o princípio básico da vida, que actua como uma ponte entre a mente e a matéria. Pranayama são técnicas de respiração, definidas como movimentos de manipulação do ar, cuja evidência científica tem demonstrado contribuírem para uma resposta fisiológica, caracterizada pela diminuição do consumo de oxigénio, diminuição do ritmo cardíaco e diminuição da pressão sanguínea, bem como um aumento na amplitude da ondas cerebrais teta , aumento actividade parassimpática acompanhada pela experiência de alerta e de revigoramento. De acordo com os Yoga Sutras de Patanjali, Pranayama é a ciência da aprendizagem, do equilíbrio, e do controlo sobre o prana no sistema humano. É um processo sistémico pelo qual nós controlamos com mestria o prana. Na medicina grega antiga, pneuma é a forma de circulação do ar necessário para o funcionamento sistémico dos órgãos vitais. É o material que sustenta a consciência num corpo.
De acordo com a antiga ciência Indiana há milhares de canais de energia que fluem através do corpo e estes são chamados nadis. Os nadis não devem ser equiparados com os nervos, mas são os canais através dos quais a energia primordial ou prana flui regulando o funcionamento dos planos mental e físico de nossa existência. As áreas onde a energia se torna mais concentrada são chamados centros de energia ou chakras. Eles estão relacionados com ou conectado com partes específicas do corpo, principalmente com algumas glândulas. Nós sabemos que as glândulas trabalham em conjunto com o sistema nervoso para coordenar e influenciar todas as funções psico-fisiológicas do corpo. Sempre que a energia for bloqueada ou não pode fluir de forma eficiente, por algum motivo, o funcionamento normal das diferentes partes do corpo torna-se interrompido e se se prolonga as doenças podem surgir. A ciência moderna ainda não foi capaz de provar a existência desta energia subtil, composta por nadis e chakras. Nos antigos textos existem muitas e divergentes perspectivas sobre o corpo subtil, embora nunca se discuta a sua existência.
Os antigos sábios também descobriram que, entre os milhares de nadis, há três que são os canais de energia mais poderosos e, quando purificados o suficiente, podem promover o desenvolvimento do ser humano nos planos: físico, mental e espiritual, o que nos permite atingir níveis mais elevados de consciência. Estes canais são chamados de Ida, Pingala e Sushumna.
As técnicas de Pranayama agem para purificar os nadis, incluindo esses três canais de energia principais. Sabes-se há muito tempo que a respiração através da narina esquerda estimula a nadi Ida ou o "canal lua" (conectado com o sistema nervoso parassimpático) e respiração pela narina direita estimula a nadi Pingala ou o "canal sol" (ligado com o sistema nervoso simpático). Ao equilibrar o funcionamento de ambos nadis (isto é, ambos os aspectos do sistema nervoso autónomo) que podem estimular o canal de energia principal, chamado Sushumna e harmonizar a actividade do sistema nervoso como um todo.
A respiração correcta é a base de todas as técnicas de Pranayama
A maioria das pessoas não respira da maneira correta. Assim, a primeira tarefa, antes de iniciar quaisquer exercícios de respiração, é aprender a respirar correctamente.
Os exercícios de respiração têm que ser entendidos como uma tenra flor, que precisa do nosso cuidado e atenção diários. Só desta forma o desenvolvimento gradual e natural acontece, trazendo os resultados certos. Qualquer tensão ou desconforto durante exercícios de respiração é um sinal de que o corpo ainda não está preparado e que temos de melhorar o desempenho de exercícios de respiração básicos antes de continuar. Temos que treinar e adaptar os nossos órgãos e centros respiratórios e todas as funções de respiração aos novos padrões de respiração de maneira gradual, natural e não forçada.
Ao longo das nossas vidas não só esquecemos de como respirar correctamente, como também a relação entre a inalação e exalação muda e torna-se errática. É importante saber que quando respiramos de forma optimizada e de uma forma relaxada há uma proporção natural de 1:2 entre o comprimento de inalação e exalação. Isto significa que a expiração é o dobro do tempo de inalação - se inalamos por 4 segundos a exalação normalmente deve durar cerca de 8 segundos, mas, novamente, não deve sentir qualquer desconforto. Isto é conseguido através da prática diária regular, idealmente a partir do momento da nossa primeira introdução a exercícios de respiração. No entanto, não devemos forçar-nos a alcançar o mencionado rácio de 1:2, a fim de progredir mais rapidamente, porque mais cedo ou mais tarde, o corpo vai reagir negativamente à respiração forçada. Ao realizar exercícios de respiração numa posição reclinada podemos melhorar a consciência da nossa respiração e aprender de forma mais eficaz a maneira correcta de respirar. Algumas semanas são suficientes para que o corpo se adapte aos novos padrões de respiração, sentindo a respiração de forma correcta, sem a necessidade de influência deliberada.
Donna Farhi (1996) afirma que:
“Aprender a respirar é bem mais do que um processo no qual aprendemos um conjunto de técnicas para melhorar a respiração que já fazemos. É um processo de desconstrução, onde aprendemos a identificar as coisas que já fazemos e que restringem a emergência natural da respiração”. Este processo de observação permite desenvolver insight sobre as possibilidades do pranayama, bem como uma maior consciência somática, ajudando-nos a conectar conscientemente a respiração, o corpo e a mente.
Importante também salientar que a prática de pranayama não é suficiente. Temos que desenvolver o amor universal libertamo-nos do ódio, inveja, cobiça, paixão, raiva e hipocrisia. etc... Temos que entender que cada criatura ama a sua vida e não quer morrer. Temos que ser protectores e não destruidores. Temos que viver criativamente.
Brevemente serão publicados mais artigos relacionados com as técnicas de Pranayama, com breves descrições e exercícios práticos.
Referências bibliograficas
Donna Farhi (1996). The Breathing Book: Good Health and Vitality Through Essential Breath Work. New York: Henry Holt.
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